As quatro amigas estavam ali, sorriam, as quatro amigas
vestiam preto e tinham, olha a coincidência, um busto dos grandes, acho que
bustos dos grandes é mais certo gramaticalmente, as quatro amigas se conheceram
naquela noite e já se tornaram as melhores amigas, as quatro amigas, duas tinham casado e separado, passavam dos
35 anos, uma tinha 24 e namorava uma garota de 21 até o mês passado mas agora
preferia estar sozinha e curtir a companhia das outras amigas, uma namorava
firme havia cinco anos e até que se provasse o contrário era coisa pra casar, um
bancário ou médico, um desses caras sérios que dão bons maridos, as quatro amigas mais ou menos fiéis umas às
outras, menos uma delas, que tinha cintura fina e pernas bonitas, as três
amigas invejavam as pernas da quarta amiga.
Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por