As quatro amigas estavam ali, sorriam, as quatro amigas
vestiam preto e tinham, olha a coincidência, um busto dos grandes, acho que
bustos dos grandes é mais certo gramaticalmente, as quatro amigas se conheceram
naquela noite e já se tornaram as melhores amigas, as quatro amigas, duas tinham casado e separado, passavam dos
35 anos, uma tinha 24 e namorava uma garota de 21 até o mês passado mas agora
preferia estar sozinha e curtir a companhia das outras amigas, uma namorava
firme havia cinco anos e até que se provasse o contrário era coisa pra casar, um
bancário ou médico, um desses caras sérios que dão bons maridos, as quatro amigas mais ou menos fiéis umas às
outras, menos uma delas, que tinha cintura fina e pernas bonitas, as três
amigas invejavam as pernas da quarta amiga.
Outro dia, por razão que não vem ao caso, me vi na obrigação de ir até a Cidade 2000, um bairro estranho de Fortaleza, estranho e comum, como se por baixo de sua pele houvesse qualquer coisa de insuspeita sem ser, nas fachadas de seus negócios e bares uma cifra ilegível, um segredo bem guardado como esses que minha avó mantinha em seu baú dentro do quarto. Mas qual? Eu não sabia, e talvez continue sem saber mesmo depois de revirar suas ruas e explorar seus becos atrás de uma tecla para o meu computador, uma parte faltante sem a qual eu não poderia trabalhar nem dar conta das tarefas na quais me vi enredado neste final de ano. Depois conto essa história típica de Natal que me levou ao miolo de um bairro que, tal como a Praia do Futuro, enuncia desde o nome uma vocação que nunca se realiza plenamente. Esse bairro que é também um aceno a um horizonte aspiracional no qual se projeta uma noção de bem-estar e desenvolvimento por vir que é típica da capital cearense, como se estivessem oferec...