Esse, aliás, é um sentimento esquisito por natureza. Lembro
quando gostava muito de uma garota da escola. Um pouco antes de dormir,
imaginava como seria encontrá-la no dia seguinte e dizer tudo que tinha pra
dizer. Toda a verdade, essa verdade que escondemos no mais fundo. Entre sonho e
vigília, compunha um diálogo perfeito, desses de cinema, e nele eu era um ator eloquente,
cheio de frases certeiras que ao atingir o alvo produziam chispas de luz e
amor.
Mas então eu acordava e já não era mais aquele
garotinho corajoso que tinha uma porção de coisas bonitas pra falar. Na verdade,
eu ainda era. Mas não o mesmo, o que tinha decidido colocar de vez um ponto
final naquela história e assumir tudo que tinha pra assumir.
Eu era de novo um menino que vivia a vida certa.