Não sei o que há, mas que há, há. Sobre isso
não tenho dúvida. Ainda agora fui ao supermercado e na fila todo mundo tinha essa
cara estranha de quem escondia qualquer coisa, um segredo, uma cédula falsa ou
uma caneta estourada no bolso, e, pior, nem se importava, estavam satisfeitos
em portar essa verdade, qualquer que fosse ela, dividindo uns com os outros a maravilha
que é parecerem normais quando não são.
Depois fui almoçar e no restaurante a mesma
coisa, o garçom servindo e o barman picando gelo e o caixa atendendo e por todo
lado a sensação esquisita de que haviam combinado as regras de um jogo cujo início
e fim só eram conhecidos por eles e ninguém mais, de modo que pedi água e saí
imediatamente.
Mas antes precisei comprar cigarros e seria
gratuito dizer que a moça da loja de conveniências me recebeu com um sorriso
suspeito, para dizer o mínimo.
Foi aí que resolvi ir mesmo pra casa, ficar
um tempo sozinho, calado, desliguei computador e tevê, liguei o ventilador
porque nessa época do ano é quente, me estiquei nas almofadas e fiquei pensando: nada mau se de repente todas as pessoas estivessem certas de que algo singular
iria acontecer nas próximas horas, não importa o quê.