A Ana Maria Bahiana falou sobre o final de True Detective melhor que qualquer um: a ração diária de séries cujos enredos mirabolantes são a espinha dorsal do modo como reagimos a histórias mais simples acabou criando uma expectativa que não se justifica quando voltamos aos oito episódios e procuramos razões para crer que algo sobrenatural arremataria tudo que aconteceu.
O sobrenatural é Louisiana, lugar pantanoso onde o ser humano comum se desmancha e vira outra coisa que não se explica por qualquer teoria da conspiração, por mais bem bolada que seja.
O sobrenatural é que dois policiais escondam muito mais do que sugere a fachada de investigadores e pais de família desajustados, revelando-se ao final não o rosto misterioso por trás da série de assassinatos, mas dois homens cujas vidas foram profundamente marcadas por tudo que viram nos últimos 17 anos.
Não sei o que outras pessoas esperavam do
desfecho. Talvez uma seita de monstros pavorosos erguendo-se dos rios e assumindo
finalmente a autoria dos crimes. Ou, tcharãm, que Rust Cohle, num golpe
dramático, encarasse o parceiro e admitisse, o rosto sombreado pela iminente
revelação: eu sou o Rei Amarelo.