Quando a gente leva um tombo feio e quebra
a perna ou machuca o braço, o que vem depois? O medo de cair novamente, de chutar
a bola, mover o pé na direção errada e o pé estalar e quem sabe se partir em
dois. O medo de que o movimento, antes natural, tenha se perdido, ou perdido a
inocência, e agora qualquer flexão de joelho ou braço se torne muito doída e
quase artificial, como se tivéssemos desaprendido a andar, como se caminhar com
segurança fosse uma bênção concedida uma única vez na vida, logo ao nascer, e
que perdê-la significava nunca mais encontrá-la. Andar não é mais tão simples, correr
também não.
É comum que a gente pense: uma hora todo
mundo acaba tropeçando nas próprias pernas ou nas dos outros, perdendo o equilíbrio e despencando no chão, ralando o corpo
inteiro, rosto, peito, barriga, genitália. É normal acreditar que a nossa hora
vai chegar. É um pensamento absolutamente humano. Se aconteceu com outros, vai
acontecer comigo também. Ainda que demore, que os dias passem e a velhice
encoste no ombro, que haja apenas a espera pela última queda, que seria também
a única. Mas isso ninguém sabe ao certo.