“Essa
insistência na felicidade é doentia”, pesquei essa frase de ouvido há duas
semanas. De lá pra cá, ficou presa como uma flepa no dedo médio ou resto de
feijão grudado nos dentes.
Primeiro,
insistir na felicidade pode ser tudo, menos doentio, concordam? Pelo menos era
assim que pensava, até que insistir na felicidade se transformou no meu esporte
predileto. Ia pra casa planejando insistir, dormia pensando que seria a melhor
escolha, acordava no meio da noite feliz por haver optado pela obstinação em
vez de entregar os pontos e assumir o ônus de existir: ora estamos felizes, ora
infelizes, e era uma tremenda bobagem gastar parte do meu dia no esforço de convencimento de que, contrariamente à vida de qualquer pessoa normal, a minha era recheada
fundamentalmente com momentos de felicidade.
De
modo pouco racional, eu calculava que se A quer dizer B e B redunda em A, logo
as duas letras seriam iguais em tudo. Ledo engano. Eram, sim, semelhantes em
tudo, menos no que interessava.
Passei
a me perguntar com uma frequência absurda: como pode parecer doentia uma pessoa
cuja única preocupação na vida é evitar que sentimentos ruins tomem as rédeas
dos acontecimentos? Como encarar como algo negativo a prática de rejeitar a todo
custo, às vezes de maneira doentia, as consequências daninhas das ações que
executamos no dia a dia?
Como classificar como moralmente inferior alguém que
devota um razoável volume de energia a demonstrar, recorrendo a todos os meios
e ferramentas, que não apenas é feliz, mas que ser feliz é uma qualidade inata,
uma informação genética, e que algumas pessoas nascem com ela e outras não?
Por
diversas razões, essas perguntas continuam sem resposta satisfatória, e
qualquer tentativa de solucioná-las resultará em infelicidade.