Era pra ser a última postagem do ano, mas a
última nem sempre é a última, o que quer dizer que o que vem depois do ponto
final depende menos da vontade da gente que das circunstâncias.
Nada no mundo nos prepara para o impacto do anúncio da paternidade. Escola, cursinhos pré-vestibular, acampamentos da igreja, alistamento militar, grupos de oração, cartomantes. Nada.
Nada no mundo nos prepara para o impacto do anúncio da paternidade. Escola, cursinhos pré-vestibular, acampamentos da igreja, alistamento militar, grupos de oração, cartomantes. Nada.
Não era assim que eu tinha imaginado contar pra todo mundo: eu vou ser pai. De qualquer forma, não existe uma maneira certa de dar uma notícia dessas. Não tenho o talento da minha mulher, que, para me trazer a boa-nova, encenou uma peça de teatro, com participação do garçom da pizzaria, a quem agradeço pelo empenho, seriedade e interpretação naturalista.
Preciso dizer que jamais
desconfiei de que dentro da caixinha de brinquedo encimada por um palhacinho
não havia uma conta com o valor da pizza e das três cervejas, acrescido dos 10%,
mas um sapatinho de criança – que, de uma perspectiva unicamente materialista,
não deixa de ser uma conta também. E das mais altas, porque custeada até o fim
das nossas vidas.
Piadas à parte, como chorei ao ver aquele
sapatinho. Pequeno, azul, encolhido. Trazido por um estranho e depositado à
minha frente como uma ave ferida. Desculpem a pieguice, é que não consigo
evitar o tom dramático. Numa noite em que a lembrança da minha avó martelava no
juízo toda vez que eu via na TV o anúncio do especial de Natal do Roberto
Carlos, foi mais do que eu podia aguentar.
Nos estertores de 2013, quando nada mais parecia capaz de superar em grandiosidade os fatos do ano, eis que uma célula encontra outra num desses corredores estreitos que apenas a vida consegue inventar. Está prontinha a drástica manchete do meu jornal particular: eu vou ser pai. A cadeira bambeia, o copo de cerveja dança diante dos olhos, a mão vacilante tateia o bolso da camisa à procura do cigarro. Caramba.
Nos estertores de 2013, quando nada mais parecia capaz de superar em grandiosidade os fatos do ano, eis que uma célula encontra outra num desses corredores estreitos que apenas a vida consegue inventar. Está prontinha a drástica manchete do meu jornal particular: eu vou ser pai. A cadeira bambeia, o copo de cerveja dança diante dos olhos, a mão vacilante tateia o bolso da camisa à procura do cigarro. Caramba.
Ia esperar pra falar da novidade na primeira
crônica de 2014, a ser publicada na quinta-feira, dia 2 de janeiro, no jornal O Povo.
Mas a pressão de guardar a notícia tava causando azia. Além disso, já tinha
dito pra todo mundo no trabalho. Não era mais tão segredo assim, embora
sentisse que apenas quando escrevesse sobre o assunto é que a novidade
começaria a ganhar corpo.
Desde o último dia 23 dezembro, minha vida
mudou. Acordo no meio da noite, vago pela casa sem saber o que quero, ligo a TV
no silencioso, tento adivinhar o que as bocas estão falando, em que língua se
comunicam, abro e fecho a geladeira mil vezes, fumo à beça e encosto a cabeça
na janela a fim de ouvir melhor a conversa dos bêbados.
Dinheiro, Natal, saúde, bebês – nada
preocupa os bêbados. Fico mais tranquilo.
Boas festas novamente.