Não é sempre que o texto começa sem
finalidade, vadio no espaço entre as palavras, ganhando corpo aos bocados,
fundando-se a cada frase, inaugurando sentidos à prestação. Às vezes acontece de
partir duma ideia pré-definida e só depois se desencaminhar, extraviando-se do pressuposto,
desdizendo o juízo, desgovernado e aprumado ao mesmo tempo. Finge que vai, mas
fica; que fica, mas vai.
Noutras, sucede que, mesmo forçando a mão
para que tome uma direção, termina por desaguar em outra. Já vi textos que
principiam por afirmar X e arrematam com Y, embaraçando todas as letras do
alfabeto no percurso. Finge que finge, e fica por isso mesmo.