Olha, embora pareça o contrário, às vezes é
muito difícil dizer alguma coisa diferente da usual empregando as mesmas
palavras ou palavras da mesma família, variando apenas o ritmo da frase e a
pontuação, recorrendo a meia dúzia de adjetivos e outra meia dúzia de
advérbios, sempre vistos com desconfiança.
É difícil por muitas razões, mas
principalmente porque a capacidade de soar diferente exige um sem número de
atributos e habilidades, tais como talento e disposição, além de técnica e
sorte, e tudo isso tem que caminhar junto como numa orquestra, e muitas vezes
até tentamos fazer com que a música soe harmoniosa como se tocada por uma
orquestra afinada, mesmo quando o resultado lembra uma algaravia sonora.
Olha, por causa dessas e de outras
dificuldades, tantas que sequer posso enumerar, frequentemente abrimos mão da ideia
odiosa de orquestra e logo agradecemos a todos os deuses por isso. É quando resolvemos
tocar qualquer música, em qualquer tom, de qualquer jeito, com qualquer
instrumento, produzindo uma sonoridade que, se não é a mais agradável, é a que,
ouvida à distância, entre prédios e carros passando na rua, debaixo de chuva ou
sol, numa quarta cinzenta ou num domingo iluminado, prontamente reconhecemos
como nossa.
Não sei que relação pode haver entre essa
ideia de orquestra desengonçada e essa vontade - porque é de vontade que estamos falando - de comunicar alguma coisa diferente utilizando a língua de sempre. Mas suspeito que exista alguma.