Acabo de ler sobre o lado cruel de animais
considerados amáveis; fofos num sentido genérico. Focas, filhotes de lontras.
Pequenos animais para os quais olhamos e logo imaginamos cenas bonitas,
aconchego, calor, temos vontade de abraçar, de beijar. Então suspiramos e
sonhamos alto, “bem, seria maravilhoso se todos se adorassem como as lontras
se adoram”. Enfim, toda sorte de bons sentimentos.
Pois bem. Esses animais considerados fofos
e amáveis são na verdade muito cruéis, foi o que acabei de ler. E, por alguma
razão, isso não me causou nenhuma surpresa.
Claro, não apenas eles. Se há uma justiça no
mundo é que a crueldade foi democraticamente distribuída.
Quero dizer, não é estranho que os tipos
mais inofensivos sejam capazes de estuprar filhotes de outras espécies até a
morte e continuar chafurdando nos corpos ainda que já estejam caindo aos pedaços de tão podres?
Foi o que pensei, a natureza, essa sonsa. Um monte de gente olha pra ela como quem olha um recém-nascido e
conclui que tudo é muito perfeito e belo para não ter sido obra de algum deus
bondoso.