Agora é minha vez de falar: estranho mesmo,
se quer saber, é voltar no tempo, como tenho voltado com tanta frequência, e reencontrar
tudo que foi dito e de lá não extrair uma vírgula de sinceridade. Nada. Um farelo
de sentença honesta, uma porção miúda do que pensei seria a paisagem natural. Então
descubro: não há paisagem natural. Cada volta é uma viagem diferente.
Comparei fotografias, medi sorrisos, esquadrinhei
abraços, cruzei as mesmas ruas, avaliei declarações de teor semelhante – acredite, nada
é como antes. O clichê venceu.
Acabo de retornar de uma dessas viagens
estranhas em que temos a opção de descer do carro e caminhar horas a fio por uma
cidade exclusivamente imaginada por nós. Sabe o que encontrei? O nada. Pra onde
virava, dava com a cara na parede. O pior: eu gargalhava. Gargalhava na
encruzilhada. Gargalhava nas esquinas. Gargalhava nos balcões dos bares que
ainda guardavam marcas de cigarros.
Nessa cidade tão vazia deparei, no entanto,
com algo importante. Uma força anônima que ia sulcando despercebida. O tempo. Me
permita afirmar o óbvio; o tempo é ainda subestimado. O tempo é como esse
adversário que reputamos promissor, sim, mas frágil e pouco experiente antes de
cruzarmos, ele à frente, na linha de chegada.
É para isso que fomos todas ao mesmo lugar.
Cada uma ocupando o mínimo espaço nas cidades inventadas por frustrações comuns.
Estávamos ali para superar alguma coisa: um medo, uma febre, alguém. Sem dúvida
o principal combustível de muitas de nós tem sido enterrar a memória de um
amor.
Mediante visitas regulares ao passado, o
que planejamos tem o objetivo claro de passar a perna na memória. O método é
pouco ortodoxo, admitamos. Às vezes até suicida. É, todavia, eficientíssimo.