Vamos falar baixinho sobre o tempo
conturbado, pode ser? O que acha de tanto barulho, consegue respirar e bater
palmas ao mesmo tempo, tem certeza de que a próxima rua é a rua certa, o que
fechar primeiro, os olhos ou a porta, qual o último pensamento antes de dormir,
como reage ao silêncio?
São perguntas pra checar a frequência do
pulso e assim garantir que os resultados do teste sejam os mais fidedignos possível.
Agora, por favor, vamos simular uma
conversa normal sobre o pugilato das ideias feitas, a complexa engrenagem que
alimenta a crueldade dos amigos, o grau aceitável da indiferença, a maneira
menos torpe de julgar e condenar outra pessoa. Podemos começar? Não, ainda não?
Enquanto não começamos, gostaria que
virasse pra trás na cadeira. Está vendo aquela janela? Ela descortina uma
paisagem urbana degradada. Está vendo a garagem? As pessoas na garagem? O que
fazem as pessoas? Limpam, transportam objetos de um lugar para outro, ouvem
música, eventualmente riem de alguma piada, dormem etc. São pessoas comuns
fazendo coisas comuns numa noite qualquer de 2013. Muitas têm família, outras
vivem sozinhas, apenas uma parte delas saberá de fato que cada hora desperdiçada
imaginando tudo como um grande jogo é o caminho mais rápido para a frustração.