Aos poucos você se enreda nessa tarefa penosa que é tentar encontrar uma fibra de sentido para os pensamentos, que
dão voltas e se recusam a entrar na casinha número 1, preferindo a nº 2 ou a nº
3, quando não a nº 4 e só muito raramente a nº 5, essa espécie de casa de
salvação, que existe apenas como hipótese, assim como os buracos negros e
outros fenômenos astronômicos previstos em teoria mas jamais confirmados na
prática, seja porque a realidade está aquém da teoria, seja porque está além –
ou seja porque não está em lugar nenhum, carecendo igualmente de comprovação.
De minha parte, acho pouco produtivo e até certo ponto inviável crer que essas coisas todas que vemos não sejam elas mesmas, mas outras coisas, sob as quais talvez existam ainda outras e dentro destas novas coisas, deus é que sabe.
Custo a acreditar que a realidade possa estar aquém de qualquer teoria. Se tanto, está no mesmo plano, e considerar a possibilidade remota de que algo imaginado encontre parâmetro no mundo real já é motivo de festa para a vida inteira.
No mais das vezes, você prevê o que falta, e o que falta pode ou não existir, ou existir precariamente, ou existir por merecimento, o que não equivale a dizer que exista.
Esse é basicamente o sentimento de quem, atiçado por qualquer cutucão estranho na base esquerda do olho direito, um treme-treme de pálpebra traduzido como novidade quando é apenas retração involuntária de algum nervo ressabiado, coloca-se a vasculhar não a sala, o quarto, a cozinha, os cômodos habituais onde se entoca o hábito, mas o dicionário.
Custo a acreditar que a realidade possa estar aquém de qualquer teoria. Se tanto, está no mesmo plano, e considerar a possibilidade remota de que algo imaginado encontre parâmetro no mundo real já é motivo de festa para a vida inteira.
No mais das vezes, você prevê o que falta, e o que falta pode ou não existir, ou existir precariamente, ou existir por merecimento, o que não equivale a dizer que exista.
Esse é basicamente o sentimento de quem, atiçado por qualquer cutucão estranho na base esquerda do olho direito, um treme-treme de pálpebra traduzido como novidade quando é apenas retração involuntária de algum nervo ressabiado, coloca-se a vasculhar não a sala, o quarto, a cozinha, os cômodos habituais onde se entoca o hábito, mas o dicionário.
E o que procura no dicionário, um livro de entradas para tudo que você conhece e também desconhece?
Uma palavra que não tenha sido inventada? O fenômeno previsto em teoria, mas ausente da realidade? O termo mais adequado para essa tremedeira na pálpebra?
Essa porta, você instintivamente descobre, guarda o estranho segredo de não se revelar totalmente.