Me sinto um porqueira, um pobre coitado e
um coração de pedra por não ter gostado de Frances
Ha. Faltou pouco. Fui tão disposto, mas acho que o excesso acaba
prejudicando o filme. Muitas piadas e piscadelas pra plateia, tombos e
confusões, além das sequências feitas para enternecer. Tudo comprimido em menos
de duas horas. Não deu.
Frances falando bêbada o que é o amor,
Frances convidando a amiga pra brincar de luta, Frances tropeçando depois de sacar
dinheiro, Frances lindamente inconveniente, Frances maravilhosamente espontânea
pela milésima vez, Frances esbarrando de cara no mundo antipático e certinho
dos adultos, Frances desmascarando sem querer esse mesmo mundo adulto do qual
recusa a todo custo fazer parte, Frances encarando cada revés da vida com um
otimismo patológico.
Gosto de coisas
específicas do filme. Frances correndo na rua. É uma cena linda que me deu
vontade de correr junto. Melhor, de sair do cinema naquele instante e colocar a
vida em ordem. Frances dando aula de balé às menininhas. Frances arrumando o
quarto. Frances acordando tarde e não aproveitando quase nada de Paris.
No minuto seguinte, porém, descubro
novamente que ninguém é tão desconjuntado e inábil quanto Frances. Não
precisava ser desse jeito, tão ridiculamente distraída e infantil.
Alguém pergunta algo simples, e o que ela entende? O sentido literal. Frances não aceita o figurado, a aparência, o subtexto. Tudo nela é o que é, refém de um romantismo essencialista que contrapõe a ilha de autenticidade da juventude à falsidade do mundo adulto.
Onde você está? Aqui. Não, eu quis
dizer onde estuda.
Frances é adorável, mas apenas do modo como
uma menininha de três anos brincando com o cachorro no tapete da sala é.
Talvez seja isso o que me incomode tanto.
Não o fato de Frances Ha narrar as
trapalhadas de uma mulher às voltas com a própria falta de jeito para lidar com
as mudanças. Mas a redução desse painel cômico e dramático a um monte de
piadinhas.
Uma observação: o cinema do Dragão está
fantástico. Uma exibição sem ruídos, perfeita.