Sobre as leituras que não cabem nas páginas:
Meu coração
de pedra-pomes,
concluído, nada a declarar, exceto a opinião vagamente sincera de que se trata
de uma dessas leituras feitas para gente muito diferente de mim e eventualmente
até não tão diferente assim, mas refém de uma autoimagem que destoa bastante do
que é de fato.
O que nos aproxima mais do que nos afasta.
Juliana Frank, autora desse livrinho curto,
uma prosa de marteladas e gemedeiras, gozo pulp, delicada, mas ainda
assim... sei lá. Diria que é irregular se acreditasse em gente que diz que tal
livro ou tal filme é irregular, se acreditasse na irregularidade tanto quanto na
regularidade, se acreditasse que continuamos gostando de algo no segundo
seguinte depois de falarmos: isto é irregular.
Quer dizer, nem uma coisa nem outra. Se me
pedissem algo honesto, falaria simplesmente: não é um livro feito pra mim, não
gostei por isso (meio verborrágico), por isso (é cheio de um tipo de juventude
que não me interessa tanto) e por isso (a própria dificuldade em nomear o
desagrado me incomoda profundamente).
Ao contrário de O encantador, de que gostei muito e até falei umas bobagens sobre
ele no jornal – e quando digo bobagens não é eufemismo, é bobagem mesmo –, Meu coração de pedra-pomes vai nessa
direção e continua indo até chegar num ponto em que, olhando pra trás, percebo
que não gosto do caminho percorrido, entendem o que quero dizer?
A gente se permite (eu me permito) conduzir (quase sempre) e, de uma hora pra outra, espia um pouco sobre o próprio ombro como quem não quer nada e descobre entre assustado e resignado que o rumo das coisas até ali não é
lá tão bacana ou interessante quanto pareceu no início e que talvez seja o momento de colocar um ponto final.
Todavia, comparar livros frequentemente é uma coisa pouco inteligente de se fazer, sobretudo quando se trata de livros tão
distintos.
Agora, se querem saber, o que realmente chamou
a minha atenção foi:
Divórcio, do Ricardo
Lísias.
Trouxe pra casa ontem, só hoje pude dar uma
olhada, li 70 páginas na cozinha enquanto tentava reunir coragem pra
tomar banho depois de chegar do trabalho.