Acabo de ver Carey Mulligan, a atriz, no ônibus, o transporte público. Passava pouco das 13 horas e Carey estava com fome. Disse então que ali perto havia um restaurante bom porque barato, mas ruim porque sem qualidade, quando a Carey, a cobradora do ônibus, que se chama Carey em homenagem à Mariah Carey, a cantora e eventualmente atriz e talvez amante, e não por causa da senhorita Mulligan, como fez questão de se referir à atriz, sugeriu o espetinho de carne do Extra da Aguanambi, que combina muito bem com uma cerveja depois do expediente, naquelas horas em que um homem anda sozinho na calçada somando pequenas e grandes atitudes tomadas ao longo do dia sem conseguir chegar a um resultado satisfatório.
Então Carey, a atriz, disse que não comia carne e Carey, a cobradora, se espantou, como consegue, amiga?. Eu simplesmente fecho os olhos bem apertados até eles arranharem a pálpebra e ficarem de costas pra tudo e imagino um pote de sorvete sem gordura e árvores e areia da praia e bananas fritas e o vento da tarde enxugando o suor das costas e da testa após uma caminhada do Centro até o Benfica.
Então é assim, é simples assim?, perguntei.
Atriz e cobradora me olharam com uma olhar esquisito de quem de repente
surpreende um corte feito com papel cicatrizando um milésimo de milímetro por
segundo ou uma nuvem estacionando por uma fração de tempo irrisória sobre o
terraço de um prédio a fim de que as pessoas que festejam lá em cima possam
acreditar que os elementos da natureza se dobram à vontade, quando na verdade é
a vontade e não a sombra que se dobra, entenderam?
Carey e Carey sorriram e em seguida fizeram
uma caretinha que é mais ou menos como a careta que fazemos de manhã cedo ao
nos espreguiçarmos e no segundo seguinte sentirmos o cheiro de café. Nesse instante, por obra do desconhecido, o dia inteiro e a semana inteira se estiram bem na nossa frente como
um tapete persa feito na zona rural de Pacajus.
É por aí, disseram. Eu dei o sinal e desci.