Depois do falso salmão, polêmica que ainda
não tive tempo de entender direito, do veganismo infantil, resultado da
exposição frenética de um vídeo no Youtube mostrando uma criança que se
pergunta se é realmente necessário matar, vem aí o nu orgânico, forma de
arte-vida-performance que se apresenta como resposta para as muitas angústias
do homem e da mulher modernos, resposta essa que também não tive condições objetivamente materiais de compreender.
Reparem que o nu orgânico é a contraparte de
um nu presumivelmente inorgânico, ou seja, nudez composta de matéria nem
vegetal nem animal, onde se conclui que mineral, ou, finalmente, que se
enquadra na categoria do inanimado, no que ficamos a ver navios, como pode
haver nu orgânico se não há propriamente nu inorgânico? Seria o nu plasmático? O
nu espectral, fantasmagórico, ou a expressão diz respeito somente à
inexistência de substâncias naturais no emprego desse nu?
Ora, por mais silicone que uma mulher
abrigue em si, ela ainda será majoritariamente feminina, ou seja, mulher, ou
seja, orgânica, ou seja, superestrutura cuja base é vegetal ou animal.
Instala-se a seguinte cizânia, uma das
tantas inauguradas com o advento do politicamente correto: o nu orgânico é
artístico, natural, autêntico, e o inorgânico é artificial, falso, pouco
expressivo. Esse jogo de opostos esconde mais do que julga nossa vã gastronomia
filosófica, mais até do que aquilo que somos levados a crer quando enxergamos unicamente
resistência política na adoção deliberada do orgânico em detrimento do
inorgânico.
O que há por trás do nu orgânico? Uma
crença na pureza do indivíduo semelhante à que a seita acredita combater? Afinal,
o orgânico e o inorgânico são ou não os dois lados da mesma moeda?
Deixemos a questão para os antropólogos de
2097.