Qualquer
cretino pode ser espontâneo. Então eu acho que a literatura vem desse conflito
entre a ordem que você quer e a desordem que você tem. HH, Fico besta quando me entendem.
Essa Hilda entendia bastante do Fla x Flu de cada um.
E eu, que tento parecer espontâneo sempre
que possível, o que não pode se confundir com genuína espontaneidade, me vejo
apenas cretino, mas um cretino ressabiado, incapaz de dar dois passos sem se
perguntar se o terceiro realmente precisa existir e, em caso afirmativo, se é
esse que estou dando e não outro.
O que também não pode ser tomado por medo
ou covardia. É antes um apreço desmedido por transformar toda estranheza do
contato com as ranhuras da superfície sobre a qual se caminha em uma informação
familiar, segura, deliberadamente cultivada. Verter o desconhecido em degrau.
Dizendo assim, tudo explicadinho, até parece mesmo covardia, mas insisto que não é. Ou é? Não, não. É só um jeito de andar diferente, conferindo a cada coisa uma importância elementar, sem
atropelo nem tumulto. Ou, como disse HH, com doses equilibradas de atropelo e
tumulto, a régua numa mão e na outra a granada.