Duas personalidades que vi recentemente na
livraria enquanto tomava café de sete reais e comia crepe de dez reais.
Cumpre dizer que, nas duas ocasiões, o celular das personalidades tocou, o da coleguinha tranquila mas insistentemente, o de Auto Filho abertamente histérico, o que não nos permite concluir que os muitos anos dedicados aos estudos do marxismo tornaram o professor de filosofia mais ou menos imprevisível ou que a coleguinha em questão haja decidido, contrariamente ao que sugere o programa estético da banda Forró do Muído, investir nos aspectos minimalistas do cancioneiro popular.
O fato é que não consegui
estabelecer qualquer relação entre a música dos telefones e a missão
existencial a que cada uma das personalidades ali flagradas se via intimamente vocacionada.
Missão existencial essa que, para ser bem honesto, não sei precisamente qual é.
Personalidade 1: a coleguinha de nome Simone
ou Simaria (uma das duas, porque são irmãs e realmente parecidas) lia VOCÊ PODE
SE TORNAR UMA PESSOA MELHOR. Estava acompanhada de: um bebê muito lindo e um
cara bem fortão com barba rala meio afeminado que tinha tudo para ser o pai da
criança embora bem lá no fundo, por puro preconceito ou sei lá o quê, ninguém acreditava
que fosse.
Personalidade 2: Auto Filho, ex-secretário
de Cultura do Estado, agora mais velho e dono de uma barriga que avançava sobre
a mesa na qual descansavam dois livros e uma xícara de café. Auto lia MARX,
que, por coincidência ou não, eu havia folheado pouco tempo antes na gôndola de entrada
da store. Não pude deixar de reparar
naquilo.
Cumpre dizer que, nas duas ocasiões, o celular das personalidades tocou, o da coleguinha tranquila mas insistentemente, o de Auto Filho abertamente histérico, o que não nos permite concluir que os muitos anos dedicados aos estudos do marxismo tornaram o professor de filosofia mais ou menos imprevisível ou que a coleguinha em questão haja decidido, contrariamente ao que sugere o programa estético da banda Forró do Muído, investir nos aspectos minimalistas do cancioneiro popular.
Missão existencial essa que, para ser bem honesto, não sei precisamente qual é.