Finalmente consegui acessar a salvaguarda de todo o lastro intelectual capaz de ser comprimido no pedacinho de cartolina mais importante já inventado pelos códigos de civilidade humana: o diploma.
Não o próprio, mas uma declaração que servirá como passaporte interino enquanto o cozimento do oficial não
fica pronto nas fornalhas do conhecimento acadêmico.
Foi tudo simples. Assinei um papel pouco antes do início da cerimônia, recebi instruções genéricas de uma funcionária da universidade, fui avisado de que não poderia ter dívidas com a biblioteca e que os documentos necessários ao pedido de entrada eram aqueles mencionados no folheto amarelo anexado à declaração. Feito isso, espere 45 dias. A chancela não ficará pronta antes.
Então, a funcionária me dispensou com um sorriso. Tentei adivinhar o que ela havia
comido no café da manhã, se tinha filhos, se perdera alguém importante na vida,
qual a sua posição mais confortável na hora de dormir, se gostava de jogos de
cartas, se estava satisfeita com o estado geral das coisas etc.
O coordenador do curso passava cumprimentando os
formandos com uma expressão de alegria que parecia antever o futuro brilhante
que cada um ali teria pela frente.
Nessa noite, era como se tivessem
envelopado Fortaleza com uma beca enorme. Estava realmente quente, e cada um dos recém-formados se distinguia do outro não apenas pela cor da faixa que enlaçava
cinturas de vencedores, mas principalmente pelo número de gotinhas de suor que porejavam
na testa.
Em situações assim, coloco em prática os
ensinamentos de um antigo professor de Física: não se mova. Naquela noite, eu
não me movi.
Só descongelei quando escutei Carlos, o fotógrafo,
pedir com gestos rápidos de mão: “Olha pra mim, olha pra mim”. Suspendi a
caneta no ar e olhei. Ainda não pude avaliar o resultado. No entanto, tenho certeza
de que fiz o melhor na tentativa de enviar a meus filhos, netos e bisnetos uma mensagem
de inequívoca felicidade.
Afinal, era noite de festa.
E havia índios na reitoria.