Então estava lá no espigão da João Cordeiro,
um braço de concreto sob forma de ponte que avança muitos metros mar adentro, não
sei agora a real extensão, poderia consultar no Google, mas seria uma perda de
tempo, de modo que prefiro me perguntar se se trata realmente de ponte ou se
existe outra denominação que não seja a vaga “espigão”, que, embora simpática,
diz pouco da condição do artefato de engenharia que, partindo da areia firme,
lança-se em direção à água e, num dado momento dessa trajetória guiada sabe-se
lá por quais motivações, se pessoais ou estritamente profissionais ou ambas, resolve
parar, não uma pausa suspensa, aberta a retomadas e desvios, mas um fim calcado
em pedras que têm a suprema habilidade de defender o espigão das ondas que se
esbatem com fúria.
Pergunto também se a hora de parar é sabida
de antemão ou se chega o instante em que, tendo avançado bastante, olhando pra
trás com um sentimento que é a mistura de orgulho e medo, orgulho da distância
vencida, medo do que ainda virá, o engenheiro/espigão finca a derradeira estaca
de contenção, deita a última pedra, erige o poste final em cuja extremidade vai
brilhar uma luz que, vista por quem ainda tem os pés enfiados na areia
firme da praia, parecerá longínqua, flutuante, borrada, embaçada, irreal.
E se confundirá com as ondas.