Era com isso que parecia a música, superfície
plana de tecido cru limitada em todas as direções por uma noção fantasmagórica
de que o tempo passa devagar, o tempo conta a nosso favor se de repente o
enganamos? Rede aberta que não se curva sob peso algum? Um pula-pula para adultos?
Consulte a memória.
Gostava de imaginar o tempo assim: infantil
e ingênuo, não esse senhor empedernido e solene proprietário de todas as
respostas. Gostava de imaginá-lo um tolo a quem qualquer um passasse facilmente
a rasteira, levando-o ao chão. Mas isso é um assunto pra conversar depois.
Tão logo começou a tocar a música, entendi
que o propósito, se havia um, era enganar o que se desagrega, e foi exatamente aí
que estalei os dedos e sorri. Porque me descobria simpatizando ainda mais com a
até então vaga ideia de uma música que se propaga sem meio e se prorroga sem
promessa.
Está claro que a música sem fim é, como todo o resto, miragem que
inventamos para deleite particular.