Trecho da crônica que sai amanhã no jornal O Povo.
"Entre 21h e meia-noite, o que fizemos, como
previsto, não foi exatamente uma aventura: a) comer mais cachorro-quente, b) tomar
uma Coca trincando de gelada, c) esbarrar nos patinadores, d) ser engolfado
pelas turmas arrastando crianças suadas que escapavam dos ônibus em direção à
praia já cantando com entusiasmo os sucessos de Luan Santana, e) tentar usar o
banheiro químico (sem sucesso), f) decidir entre ficar mais perto do palco ou
da ponte, com larga vantagem de votos favoráveis à última, g) escolher uma
pedra cuja superfície fosse plana, sem tanta rugosidade e alinhada ao solo o
bastante para que pudéssemos sentar, h) comprar pipoca (excelente ideia), i) lamentar
a falta de uma máquina fotográfica mas não saber explicar por que é importante
ter sempre uma máquina fotográfica a tiracolo, j) imediatamente esquecer da
máquina e até festejar que não tivéssemos uma, l) relembrar, mês a mês, os principais
acontecimentos do ano (campo pessoal), m) perceber a recorrência de certos
padrões em 2012, n) eleger como o principal deles a compreensão mútua de que
organizar as coisas (campo pessoal) é sempre o melhor caminho, o) cantarolar
uns trechinhos de uma música do Beto Barbosa que tocava perto, entre p) e y)
pusemos novamente as engrenagens da memória para funcionar, com especial
atenção aos fatos que nos aproximaram em detrimento daqueles que nos afastaram,
sem, contudo, parecer excessivamente melosos ou deslumbrados ou artificialmente
românticos, como um casal sentado três pedras à frente que se afagava
conscienciosamente e outro que ficou de costas um para o outro, num movimento
que logo interpretamos como sinal grave
de dissolução iminente."