Faz tempo procuro uma palavra, pra ser
preciso desde a hora em que acordei hoje, umas 10h20. Sei o que deve dizer, os contornos,
a intenção, conheço o peso, a forma, o tempo necessário para pronunciá-la
devagar, a palavra não é um completo mistério, portanto.
Familiar, há quem a utilize com frequência
além do normal, é bonita, mesmo vulgar, eu mesmo me satisfaço com a pouca recorrência
com que surge em tudo que escrevo, nem rara, nem popular, está ali.
Uma palavra assim, significa variação,
dubiedade, presença ao mesmo tempo de elementos diferentes, existe na fronteira,
no exato limite entre duas coisas há uma área cujas propriedades é guardar
características de ambos os lados, zona de alteração, espécie de mata de
transição, camada que liga e comunica dois pontos distintos, a ideia geral da
palavra é essa.
Quase nuance, mas não é nuance, ou é?
Nunca pensei que fosse tão difícil, outro
dia passei horas com a palavra zunindo ao pé do ouvido, lá e cá, usava-a a
propósito de quase tudo, agora sumiu, consigo imaginar um esboço, uma forma
borrada do que nela é palavra, mas quando tento iluminar, escuro, quando penso
vou agarrar, escapa.
Essa é a explicação técnica, vamos à
morfológica, começa com “s”, é uma palavra nem curta nem longa, mas suficiente,
é parecida com “sinuosa”, no fundo é mais que isso.
Não há romantismo nessa busca, em qualquer
busca, é apenas a procura da palavra certa, gesto tão banal quanto digitar a
senha de segurança do cartão de crédito na máquina – qualquer máquina.
Aviso se encontrar.