Um texto, como qualquer coisa na vida, assume caminhos diferentes do pretendido pelo autor. Agora mesmo alimentava uma intenção
primeira, que logo transformei em parágrafo, que aos poucos foi tomando novo
rumo, e esse novo rumo conduziu a outra ideia, que, se desdobrada, diverge da
anterior e quem sabe até a confronta, de modo que é melhor manter tudo como está,
a ideia inicial virginalmente intacta, e na sequência o germe da contradição.
Trata-se menos do velho pacto da cordialidade do que de preguiça.
Assim me contaram.
Trata-se menos do velho pacto da cordialidade do que de preguiça.
Sendo assim, fica fácil concluir que o que
parecia caminhar para um lado dirigiu-se inconscientemente ao outro, e aqui percebo
o quanto o inconsciente é uma faca de dois gumes, até de três. Olhando
pra trás e vendo tudo que era ideia convertido em tentativa não saída do papel,
tudo que era planejamento metamorfoseado em diferença, cotejando o antes e o
depois e enxergando nesse exercício o “salto quântico” (oportunidade para usar
quântico em qualquer contexto não deve ser desperdiçada), o sentimento que
resulta tem algo de satisfação, um pouco de alegria e muito de susto, sobretudo
se pensarmos que quase toda alteração dos itinerários, seja ela gradual ou
súbita, é fonte inesgotável de espanto.
Assim me contaram.