Há descompasso, que é descompasso? É desentendimento
nos quereres e poderes, assim, pluralizados, de modo que impera agora
sentimento desgovernado, dito desta maneira soa até leviano, bobo,
ridiculamente infantil, mas o fato é que há sempre descompasso entre o querer
nosso e o querer da realidade, sendo a última mais forte, incontornável e
indiferente, só nos resta colocar a viola no saco e partir – partir ao meio,
encerrando cada coisa em seu lugar, ou partir, encaminhando-se diligentemente à
porta de saída, se bem me entendem há maneiras e maneiras de cotejar o desejo,
confrontar a parede, nenhuma delas exige menos que a dor, nenhuma concede salvo-conduto,
nenhuma abre mão de uma boa briga, a todos o meu muito boa sorte.
Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...