Enquanto
não vinha, enquanto esperava, pedi que piscasse, vamos, quero vê-la piscar, não
uma nem duas, mas três ou seis ou nove vezes, regime de progressão assimétrica,
era um desafio, era bonito vê-la enrugar o cenho, meninice evidente, “tô
tentando, tô tentando”, tenha calma, fingia aperrear-se e ria, ria, é pra já, era
noite, era frio, era quente, o tempo de setembro provando ser mais que um
triângulo das bermudas perdido no calendário, um instantinho de felicidade dura
para sempre, um instantinho de felicidade – olhos piscando – é maior que
qualquer felicidade.
Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...