Enquanto
não vinha, enquanto esperava, pedi que piscasse, vamos, quero vê-la piscar, não
uma nem duas, mas três ou seis ou nove vezes, regime de progressão assimétrica,
era um desafio, era bonito vê-la enrugar o cenho, meninice evidente, “tô
tentando, tô tentando”, tenha calma, fingia aperrear-se e ria, ria, é pra já, era
noite, era frio, era quente, o tempo de setembro provando ser mais que um
triângulo das bermudas perdido no calendário, um instantinho de felicidade dura
para sempre, um instantinho de felicidade – olhos piscando – é maior que
qualquer felicidade.
Vista de longe, em seu desenho irregular e mortiço, a mancha parecia extravagante, extraterrestre, transplantada, algo que houvesse pousado na calada da noite ou se infiltrado nas águas caídas das nuvens, como chuva ou criatura semelhante à de um filme de ficção científica. Mas não era. Subproduto do que é secretado por meio das ligações oficiais e clandestinas que conectam banheiros ao litoral, tudo formando uma rede subterrânea por onde o que não queremos nem podemos ver, aquilo que agride os códigos de civilidade e que é vertido bueiro adentro – o rejeito dos trabalhos do corpo –, ganha em nossos encanamentos urbanos uma destinação quase mágica, no fluxo em busca de um sumidouro dentro do qual se esvaia. A matéria orgânica canalizada e despejada a céu aberto, lançada ao mar feito embarcação mal-cheirosa, ganhando forma escura no cartão-postal recém-requalificado e novamente aterrado e aterrador para banhistas, tanto pela desformosura quanto pelos riscos à saúde. Não me detenho na es