Três semanas sem fumar. Pensava que estava curado. Deu vontade. Voltei. Estou curado.
Passei o mesmo período sem escrever. Não há propriamente relação entre a falta de cigarros e o silêncio. Não nesse nível mais elementar.
Conheço alguém que associa o cigarro à criatividade. Na verdade, sente-se bastante genial quando recende a fumo.
Um parêntese. Meu avô era jogador de baralho. Não tinha estudos. Era namorador, briguento, bebia muito na rua. Um tipo valente, diziam. O mais valente do bairro. Quando dava vontade, pescava numa lagoazinha perto de casa, mas gostava mesmo era de apostar nas cartas.
Não conheci meu avô. Nem em fotografias. Ele morreu numa briga. Mesmo baleado, conseguiu esfaquear o agressor, um sargento da polícia.
Sempre gostei de baralho. Tinha medo e fascínio, na verdade. Medo das cartas. Fascínio pelos naipes, desenhos, sorrisos do valete, da dama etc.
Temia principalmente uma velha que punha cartas na mesinha de centro da casa de um amigo. Era uma velha muito feia.
Talvez até bruxa. Espero que tenha morrido.
Essas histórias integram uma nuvenzinha que sobrevoa minha cabeça, acompanhando-me a qualquer lugar.
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