Como de hábito, enquanto esperava o café considerou tantas coisas, mas nenhuma verdadeiramente importante, nenhuma tão a sério a ponto de requerer carga superconcentrada de atenção.
Além do café, aguardava também uma porção extra de coragem. O café finalmente chegaria; a coragem, não.
Talvez houvesse uma palavra sem contornos, mas exata, uma palavra que seria apenas sua, minha, e também dela, repleta de sentido, um desses nomes-fantasia que resumem a missão da empresa, traduzem em publicidade seus interesses e impõem o consumo irracional dos seus produtos.
Mas, sabia, essa palavra ainda não existia.
Imaginava tudo mais fácil, tudo diferente, tudo de outra maneira, cada palavra que se seguiria a outra, formando sentenças estruturadas segundo uma lógica que respeitasse formalidade e beleza, um conjunto harmônico, mas também caótico.
Concluía após tanto tempo: parte do problema é desejar manter-se atado ao problema.
Porque fracassará todo o projeto cuja base for a busca apaixonada e sistemática por compreender alguém.
Do pouco contato que tiveram, das poucas vezes em que resvalaram um no outro, era o que de mais sólido podia arrancar.
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