Parêntese: havia tempos não dava uma boa caminhada ao longo de toda a extensão do calçadão da Beira Mar. Reparei a falta no final da noite de ontem, já amplamente dominado pelo sentimento de culpa depois de ter comido um portentoso sanduíche.
E que lugar horrível, santos deus! Maltratada, nossa orla é uma confusão dos diabos, uma feira livre como as que se armam precariamente nos quatro cantos da cidade, só que pior: há essa cercadura de prédios a empatar a vista, os ventos, a vida. Uma concertina formada por megaedifícios embicando a poucos metros da faixa de areia, equivalentes dos pega-ladrões feitos de caco de vidro e pregados aos muros de antigamente. É o lugar mais opressivo da cidade. O mais feio também.
Não há beleza que resista a esgoto correndo sem tampa, ocupação irregular (de ambulantes e donos de restaurantes) e poluição visual e sonora – o brinquedo cintilante atirado às alturas, a matraca que gira e produz lixo sonoro, o carro de som que troveja o próximo show de humor.
É terra de ninguém, e de todos. Quem quer, encosta uma banca e dá início ao comércio. De acarajé, açaí, cobra de mentirinha, óculos esportes, pacote de viagem às praias do interior, cachorro-quente, trenzinho da alegria, patins, skate, triciclo, bracelete, santo em miniatura, sandália de couro etc. O mando de campo é de quem chegar primeiro.
Como eu queria que fosse o calçadão: ocupado, cheio, mas livre, desimpedido, desobstruído. Uma praça, ponto de encontro, da paquera, de namoro, da cerveja, do ganha-pão. Organizado, limpo, conservado, sem tanta bagunça nem zoada, livre das estruturas totêmicas no meio do passeio. Menos feixes de luz verde, que depois vão vandalizar nos estádios de futebol ou no alto dos prédios. Mais gente apenas batendo perna.
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