O pai liga, falam-se o mais básico, interrogam-se o combinado, está de saída, comeu, que tem pela noite, e o fim de semana, comprou as frutas que aconselhei, logo vem o silêncio, o pai quer saber mais, o filho enerva-se, explica que a pilha de negócios não convém ao exíguo do tempo, deita falação, reclama o de sempre, muito trabalho, paga insuficiente, filhos crescem-lhe feito capim, prestações, depois respira fundo como a zangar-se, o pai tem saudade, é sempre assim quando telefona, já perto das 22, o filho é bom, tem certeza, o pai tem saudade, o filho responde após algum tempo preciso de desligar.
O pai tem saudade.
Desejo para 2025 desengajar e desertar, ser desistência, inativo e off, estar mais fora que dentro, mais out que in, mais exo que endo. Desenturmar-se da turma e desgostar-se do gosto, refluir no contrafluxo da rede e encapsular para não ceder ao colapso, ao menos não agora, não amanhã, não tão rápido. Penso com carinho na ideia de ter mais tempo para pensar na atrofia fabular e no déficit de imaginação. No vazio de futuro que a palavra “futuro” transmite sempre que justaposta a outra, a pretexto de ensejar alguma esperança no horizonte imediato. Tempo inclusive para não ter tempo, para não possuir nem reter, não domesticar nem apropriar, para devolver e para cansar, sobretudo para cansar. Tempo para o esgotamento que é esgotar-se sem que todas as alternativas estejam postas nem os caminhos apresentados por inteiro. Tempo para recusar toda vez que ouvir “empreender” como sinônimo de estilo de vida, e estilo de vida como sinônimo de qualquer coisa que se pareça com o modo particular c...
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