O caminho errado é igualmente um caminho, só que errado. Conduz da mesma maneira, tem curvas e atravessa trechos de rios, estradas de ferro e plantações de milho, faz-se acompanhar da tediosa passagem do tempo, das horas, dos minutos, dos segundos e mesmo dos centésimos e dos milésimos. Como os demais caminhos, sua paisagem é farta de simbologia. Ao longo de toda a sua extensão, as placas se sucedem num belo desfile de setas e números, indícios velados, mas também expressos, de todas as regras que construímos para tentar regular a diversidade de estradas que há. O caminho errado também consome, também requer uma dose enganosa de esforço e, somente em alguns casos, recompensa a valer aqueles que se sentem à vontade palmilhando-o. Por ele já transitou uma centena de milhares de pessoas à procura de um fiapo que fosse de resposta, sem se preocupar, por um momento sequer, se o que acabavam de ganhar era algo que pudessem exibir com satisfação num almoço de domingo em casa. É verdade que, visto de longe, do alto de uma montanha ou do 13º andar de um prédio magnânimo, o caminho errado pode ser confundido com outro tipo de caminho. Com o certo, até. Nesses casos, recomenda-se descer rapidamente, andar uns bons metros e, a um palmo dos dois ou mais caminhos, proceder a uma escolha.
Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por
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