O caminho errado é igualmente um caminho, só que errado. Conduz da mesma maneira, tem curvas e atravessa trechos de rios, estradas de ferro e plantações de milho, faz-se acompanhar da tediosa passagem do tempo, das horas, dos minutos, dos segundos e mesmo dos centésimos e dos milésimos. Como os demais caminhos, sua paisagem é farta de simbologia. Ao longo de toda a sua extensão, as placas se sucedem num belo desfile de setas e números, indícios velados, mas também expressos, de todas as regras que construímos para tentar regular a diversidade de estradas que há. O caminho errado também consome, também requer uma dose enganosa de esforço e, somente em alguns casos, recompensa a valer aqueles que se sentem à vontade palmilhando-o. Por ele já transitou uma centena de milhares de pessoas à procura de um fiapo que fosse de resposta, sem se preocupar, por um momento sequer, se o que acabavam de ganhar era algo que pudessem exibir com satisfação num almoço de domingo em casa. É verdade que, visto de longe, do alto de uma montanha ou do 13º andar de um prédio magnânimo, o caminho errado pode ser confundido com outro tipo de caminho. Com o certo, até. Nesses casos, recomenda-se descer rapidamente, andar uns bons metros e, a um palmo dos dois ou mais caminhos, proceder a uma escolha.
Coleciono inícios, restos de frases, pedaços e quinas das coisas que podem eventualmente servir, como um construtor cuja obra é sempre uma potência não realizada. Fios e tralhas, objetos guardados em latas de biscoito amanteigado, recipientes que um dia acondicionaram substâncias jamais sabidas. Se acontece de ter uma ideia, por exemplo, anoto mentalmente, sem compromisso. Digo a mim mesmo que não esquecerei, mas sempre esqueço depois de umas poucas horas andando pela casa, um segundo antes de tropeçar na pedra do sono ou de cair no precipício dos dias úteis. Às vezes penso: dá uma boa história, sem saber ao certo de onde partiria, aonde chegaria, se seria realmente uma história com começo, meio e final, se valeria a pena investir tempo, se ao cabo de tantos dias dedicado a escrevê-la ela me traria mais felicidade ou mais tristeza, se estaria satisfeito em tê-la concluído ou largando-a pela metade. Enfim, essas dúvidas naturais num processo qualquer de escrita de narrativas que não são
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