Eram 10 peixes: um lápis, um branquelo maiorzinho que passei a chamar de Moby, quatro miúdos bem finos com listras coloridas longitudinais, uma dupla de dourados e outros dois que agora, infelizmente, não consigo lembrar. Porque faz mesmo algum tempo que todos eles morreram, à exceção de um dourado, que vive debaixo da ponte de mentirinha e quase nunca sai de lá.
A ponte fica no fundo do aquário que, junto com a dezena de peixinhos, ganhei de presente de aniversário há três anos. É pequena, mas, durante o dia, quando a janela permanece aberta e um bocado de luz entra no quarto, a sombra projetada sob a ponte acaba virando uma espécie de esquina mal iluminada. Está a poucos centímetros da garrafa com mensagem e da touceira verde de plástico com flores vermelhas (nunca gostei de mergulhadores submersos presos a um cabo).
Resumindo, se pudéssemos imaginar o aquário como uma metrópole, aquele seria o ponto ideal para que criaturas marginais e exageradamente enigmáticas se encontrassem sem despertar muita atenção.
Faça chuva ou sol, é nesse pedaço que o único sobrevivente da peixarada passa a maior parte do tempo. Imóvel, entocado no canto escuro do artefato de vidro, parece ter desenvolvido algum complexo, um sentimento de culpa ou de perseguição. Afinal, se todos os outros, um dia, apareceram mortos, boiando ou presos a algum búzio do aquário, o que o faria acreditar que ele não seria o próximo?