Sim, de algum modo, é possível imaginar que haja uma segunda voz para cada coisa dita, e uma terceira para cada coisa apenas esboçada, mas não dita, o tipo da coisa que fica presa por anos e anos, à espera não que seja finalmente verbalizada, posta goela e língua e dentes afora, mas que os dias e depois os anos e por obra do tempo arredio as décadas enterrem-na bem fundo, essa coisa de que não gostaríamos de abrir mão, reconheçamo-lo, todavia, seja porque há todo um clichê de frases cuja validade é unicamente enfatizar a grandeza das perdas, seja porque, de uma maneira ou de outra, elas nos sobrevêm, não custa nada entender que nem tudo é feito para virar palavra.
Dito isso, é possível, sim.
Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...
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