Uma saída talvez fosse anotar, de próprio punho, cada ideia mirabolante que tivesse, e por ideia mirabolante entendam o gérmen de um romance, os nomes das três filhas, título de um filme que pretenda dirigir quando estiver uma década mais velho e nada lhe parecer disparatado, algum recorte de diálogo, uma frase engraçada para o Twitter, uma piada, um causo para os momentos de tensão entre empregado e chefes, uma narrativa satírica e outra cujo final inspire uma porção ao menos rala de fé no progresso.
Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...
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