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Ondas de calor


O calor imenso que se choca contra o muro e volta, deixando para trás quem sabe menos de 30% de sua fúria ao fim dessa operação refratária, o calor, considerem isso enquanto caminham distraidamente, o calor reflete-se no chão e retorna como vendeta, um bafejar demoníaco que atinge o loteamento de pele mais precioso de qualquer ser humano, o rosto, cauterizando todos os milímetros quadrados da sua cara e fazendo seus olhos arderem como se um bêbado houvesse despejado a urina acumulada de cinco horas bem dentro deles, o calor que faz suar, o calor que faz murchar a folhinha verde da planta no jarro, antes tão esticadinha, o incrível e desordeiro calor das treze horas, o mesmo que nos obriga a adiar qualquer saída no intervalo que vai das 11h30 às 16, o mesmo responsável por hordas de pensamentos moral e eticamente inapropriados quando, num ônibus cheio, a caminho da escola / faculdade / trabalho ou de que porra de lugar se esteja indo, junta-se a 1. uma música indefensavelmente alta e 2. ao conjunto de janelas irremovíveis com inscrições do tipo: “em caso de emergência, favor puxar o pino e empurrar o vidro”, e você, de si para si, imagina que talvez jamais necessite realmente acionar aquela coisa, mas, sei lá, se precisar um dia, talvez não funcione, e isso não ajuda a melhorar o quadro.

Um calor irritante, em suma.

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