Inventariar é, das tarefas que conheço, uma das mais prazerosas. É ampla, incansável e infinita. Um olhar despreocupado capta centenas de milhares de objetos cotidianos que podem ser dispostos em fila, caixas, em seguida classificados, etiquetados, adornados com pedaços de fita crepom, analisados e admirados a cada novo dia. Esses objetos jamais irão se esgotar.
A janela do apartamento tem sete jarros de plantas, dois dos quais abrigam cactos: um em forma de pênis e outro bem pequeno, não passa de um grão de qualquer coisa, esverdeado, que tenta crescer mas, três dias depois, a despeito da água e do sol ministrados cuidadosamente, morre.
Agora mesmo, estou me preparando para inventariar: o terreno ao lado do condomínio, os telhados das casas vizinhas, o tampo inox do fogão quatro bocas, os livros, as marcas nos fundos de uma construção próxima, as árvores do parque, os desenhos nas cadeiras da linha 666 ou 301 ou 402. Outras propostas de inventários devem surgir antes ou depois que comece efetivamente as anotações mais densas do terreno e do muro, de longe projetos bem mais encorpados se comparados aos demais.
Trarei notícias depois.
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