O escalpo da maçã obedeceu aos mesmos critérios de higiene e precisão que são utilizados nos demais escalpos, da pele, do couro cabeludo, do desejo, das cutículas e dos assoalhos dos carros, de modo que, ao final, tendo cada participante executado sua função com rigor e cada espectador da cena visto e revisto por que a remoção da superfície incômoda torna-se uma tarefa desde já inadiável, optou-se por não postergar sem necessidade a atração principal da noite.
Sob aplausos, fez-se entrar IFi, donzela pequena, magra, pele clara bastante inadequada ao escalpo brilhando quando restos de luz branca eram balançados por homens no topo das gruas. Os cabelos soltos, boca mortiça, olhos firmes, pernas entreabertas, o sexo levemente encoberto por vasta porção de pelos. Havia incorporado o show, e se dispusera ao escalpo.
É fácil explicar: sendo a pele finíssima, uma camada de nada colada ao osso, sem gordura que aceite passagem da lâmina, o normal seria que IFi fosse educadamente dispensada do rito. Mas ela insistiu.
Despiu-se ainda no camarim, encarou o produtor do espetáculo e disse qualquer coisa sobre jardinagem. O pedido foi aceito, não sem recomendações: caso sentisse qualquer fatia de dor acima do previsto em contrato, acionasse a sirene, cujo botão escondia-se sob o braço da poltrona de couro vermelho.
IFi sabia de tudo isso, mas preferiu não pedir socorro.
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