Ocorre que assim permaneceram por muito tempo. Na verdade, estão nesse pé até hoje, quando, mesmo alimentando sentimento igualmente denso, diria mais que denso, o sentimento é irreprimível e cheio de uma pureza incomum em dias de relacionamentos cujos marcos regulatórios são brevidade e superficialidade (ver Bauman), ele encontre razões para deixar provisoriamente de lado esse brinquedo, e aqui me refiro ao amor impossível, e dedicar-se a algo que o faça verdadeiramente feliz, e nesse trecho especial me reporto ao amor plenamente possível. Clara oposição de ideias que não dilui a complexidade, só a expõe.
II. Almoço...
NÃO SEI SE me faço inteligível, cara leitora, se utilizo recursos argumentativos diante dos quais a senhorita não estrebuche, atazanada com essa falta de lucidez. Peço uma coisa: não suponham tratar-se de Letícia Sabatella ou Natalie Portman, é evidente que ambas preenchem facilmente o cânone estético de beleza refinada, inatingível, todavia estão orbitando planetas suntuosos, e ele, fraco, desgracioso (sufixo oso é delicioso) e de moral repugnante, além da imperdoável timidez, seria metonímia do que quer que fosse, menos de suntuoso, de maneira que não, desejava-as, entretanto tinha real consciência do estado geral dos processos da vida.
Era bom em ter consciência das coisas impeditivas: ali uma cerca, adiante um muro, em seguida um abismo.
Quer? Isso ficou demonstrado logo às primeiras conversas. Porém vê-se destituído de talento para estabelecer patamares equilibrados. Quando sonha, despenca. E acorda com o susto que se segue imediatamente à queda, mas logo vem a tranquilidade fisiológica, a paz do corpo que se encontra na resposta ligeira: não era queda, era sonho, e sonho com vacilo da queda é apenas sonho, nem melhor, nem pior.
III. Jantar...
NADA É MELHOR ou pior, considera uma de nossas leitoras mais freqüentes, nada há que se compare, nada que exceda ou falte. Tudo é apropriado. Não sei se me acompanham, não pretendo rodear o assunto, incorrendo em tautologias inúteis.
Retomando pra finalizar. Por amor, entendia que – e salpicou um ponto em tudo antes que se tornasse amargo. Ao fim, uma observação: como apêndice de seu discurso, uma peça de dispensável prolixidade, deveria encerrar de vez o mistério em torno do qual vinha girando: Andrea Beltrão sequer existia, era uma dessas fábulas visuais ou miragens que se quer ver ao longe, mas, ao nos aproximarmos, desmancha-se ao toque, ou ainda, desfaz-se por medo do toque.
E todas sacudiram a cabeça, assentindo.
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