Tem dias em que a gente acorda, serve-se de café como de costume e sai para trabalhar mas de algum modo estranho, de algum modo perversamente inusitado permanece atrelado ao dormitório, e nosso corpo finge desconhecer a preguiça comportando-se como um jovem rebelde cujos pais o cobrem de presentes a cada final de ano embora ele sempre se recuse a aceitar afirmando cheio dessa novidade que é a consciência política, afirmando EU não posso, os hutus estão destruindo os tutsis, e é somente nesse ponto que seus pais entendem, como o cérebro entende os caprichos do corpo, eles entendem que o filho pode seguir em frente porque a adolescência, essa doença, um dia passará e não deixará marcas senão aquelas absolutamente necessárias, como o susto que se segue ao primeiro gozo silencioso.
Tem dias assim, incrivelmente assim.
Tem dias assim, incrivelmente assim.
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