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Se as vértebras falassem


Os dedos fogem, as mãos erram, os olhos vacilam. É quarta-feira, 21. Ou 22, já nem sei.

Agora, que há? Ontem mesmo li os contos de TÍTULO PROVISÓRIO, minha estreia na literatura. Foram escritos em 2007. Uma parcela, em 2006. Não me dizem respeito. Mas que susto bom. Que susto. Mesmo, mesmo. São estranhíssimos. Fico pensando: onde estava com a cabeça quando resolvi que escreveria cada um desses textos? Melhor: que os escreveria e os reuniria em livro? Pior: que os publicaria com dinheiro público? Não sei.

Há coisas que não se explicam, apenas intuem. De todo modo, nos vemos até o final do ano. Prometido: lançamento-acontecimento. Esperem, esperem. Fogos, muita comida, bebida, balões e muito, muito bolo de chocolate. E, claro, cajuína.

Besteira. Me leiam até o fim.

Outra estatística: estou bem próximo de minha 200ª postagem. Um marco. Dois marcos. Uma interessante marca. Duzentos toques. Tanto tempo, tanto tempo.

Ontem, posei. No cantinho, posei. Fiz pose. Fotógrafo: Yuri. Não disparou flashes, não estourei. As fotos são borrões fantasmagóricos, mas valeram cada segundo suspenso no ar.

Vamos que vamos que vamos que vamos.

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