Tem dias assim: você acorda, acorda, mas quer permanecer dormindo, deitado e dormindo, deitado, enrolado, e dormindo, e dormindo, porque levantar requer esforço extra-humano, porque esforçar-se não faz parte da programação básica do dia, da quinta-feira, nem da sexta-feira bem menos ainda do sábado, ainda que os sábados sejam dias por excelência movimentados, que exigem mesmo um “O que vamos fazer logo mais?”, mas, a despeito dos sábados, quero mesmo é ficar aqui e curtir essa nova onda do roque inglês, ficar, ficando, ficar assim, meio vácuo, vago, vasto.
Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por
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