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Glauber Rocha


Sábado vadio. Dormi, dormi.

No rastro do santo guerreiro

AQUI, o caderno especial que escrevi. O tema é Glauber Rocha. Estou cheio de ideias na cabeça, mas sem câmera alguma nas mãos. Tenho coisa melhor: um teclado.

Não teclado de seresteiro. Teclado de teclas em cujas faces há letras do alfabeto que, juntas, querem dizer alguma coisa mas nem sempre dizem.

Sacam?

Não que queira dizer alguma coisa.

Bom, é isso mesmo. Nada vale a pena. A alma é pequena. Nós somos pequenos. Tudo é ordinário. Os maus vencem. Se algo pode dar errado, vai dar. Coisas assim que, postas a nu, a descoberto, defumam a existência.

Quero defumar a minha vida. Mesmo. Por onde andam os amigos? Não sei.

Dizer muito, dizer pouco. Não sei mesmo. Se me perguntam, digo vá à bíblia ou ao dicionário. Eu sou o cara mais estúpido que já pôs os pés sobre a face esburacada do planeta.

Sequer produzo plásticos.

Tenho tanto. Tanto mesmo. Tanto a fazer. Tanto a fazer que nem faço. Deixo tudo como está. Fazer enlouquece. Pensem comigo: sempre que falo com alguém, estou interrompendo alguma coisa. Um trabalho urgente, um livro, um filme, um documentário. Nem que seja um bocejo, mas interrompo alguma coisa. Se alguém me ligar, não vai me interromper. Porque não estou fazendo nada.

Agora, nada. Apenas vendo. E ouvindo. Suficiente.

Afastar-se vez em quando. Quero. Oh, my dog! O que os amigos vão dizer? Ele é tão triste. Mire, veja: entrou tão tarde na faculdade. Nem está formado. Ganha tão pouco. Veste-se tão... miseravelmente.

É casado.

Meu bom cão, ele nem sai de casa num sábado à noite... Está à míngua, pedindo atenção, escrevendo torrencialmente num bom pedaço branco de tela de computador. É triste, mas é assim. Amigos pensam essas coisas da gente. Não sabem de nada.

Não sabem nada. Ainda assim tenho bons amigos. A esses, digo: a luta continua.

Amém.

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