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I have a dream

As coisas pareciam caminhar levemente sobre os prados cada vez mais belos quando Henrique pisou num monte de bosta do tamanho do maior monte de bosta jamais intuído pela mente do mais inventivo escritor de SCI-FI.

O fabuloso destino de HA é entediar-se. E pisar nos montes de esterco encontrados no caminho que antes, cinco ou dez minutos atrás, parecia bastante inofensivo a ponto de encorajá-lo a não olhar para baixo enquanto sorridente seguia em frente, aspirando o ar das campinas, abraçando feliz o destino que casualmente ajudara a construir. O seu destino. Foi o que fez. Até que pisou na coisa do tamanho... Do tamanho da coisa mais feia do mundo. Do tamanho do buraco criado pelo acelerador de apocalipses.

Apocalipse é figura de linguagem ou de pensamento?

Quem disse que “O grande Lebowski” era um grande filme? Quem disse isso? Não é. Estou cansado dos clássicos. Desses clássicos. Quero afundar na bosta. Mas bosta de verdade, não cocô de plástico comprado no Extra.

Li finalmente uma resenha azeda sobre o “Ensaio...” de Fernando Meirelles. Bom, o fato é que gostei da resenha. Condena basicamente o que Fernando, por pudor e pressão das “majors”, acabou excluindo de seu filme: os gozos intermitentes. Coitos levados a cabo sem o consentimento da parceira.

Lembrando: claro que bosta é uma alegoria para a vida. Tudo é alegoria para o que se convém. Sabem aquela mala cheia de dinheiro? Uma alegoria. Aquele hálito de bebida? Alegoria “too”.

Hoje era um bom dia para sentar e escrever com a mão no coração. Mas prefiro dormir. Dormir e sonhar com montes de bosta.

Vira o disco.

Vocês têm visto propaganda eleitoral? Tenho lido algo maravilhoso: “Eu falar bonito um dia”. Hoje a mão está pesada.

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