Misologia: substantivo feminino. Quer dizer ódio ao raciocínio, à lógica. Horror às ciências. Não gosto particularmente dessa palavra, mas achei que seria interessante começar com ela.
Rociar: o mesmo que orvalhar, cobrir de umidade, borrifar. Essa, sim. Rociar é uma pérola. Talvez porque não combine exatamente com orvalho. Lembra qualquer outra coisa, menos tornar algo úmido. Algumas palavras são assim, tem esse poder. Não lembro outra agora.
Bilirrubina: pigmento vermelho, presente na bílis e nas fezes, de estrutura complicada. Final escatológico. Antecipa a leitura de Jonas, o copromanta.
Gosto de dicionários tanto quanto de romances e novelas. Sem saber, eles nos contam grandes e pequenas histórias. “Rociar” me diz muita coisa, “bilirrubina” também. Mas isso é bobagem. Antes de morrer, escrevo um dicionário. Quem disse isso? Guimarães Rosa. Ele tinha amor aos dicionários. Morreu antes. Mário Quintana garantiu que, acaso tivesse de se mudar de mala e cuia para aquela ilha deserta, levaria consigo um bom e volumoso dicionário. Estoque inesgotável de papel? Não apenas isso. Acho que ele pensava mais nas histórias em si, na solidão da ilha.
Mas isso também é bobagem. Dicionários são o que são: depósitos de palavras. Palavras. Às vezes, demoro até perceber e aceitar que a cada uma delas corresponde um significado, uma alma, um ou vários sentidos, uma ou várias caras. E se alguém embaralhasse as coisas, as palavras se misturassem, perdessem sua identidade, passassem a não obedecer a qualquer das regras de ordenamento e se juntassem ao acaso, formando novas palavras, casando-se e descasando-se, aglutinando-se e fracionando-se em cacos? Seria o fim? Que coisa seria.
Melhor ir embora.
Rociar: o mesmo que orvalhar, cobrir de umidade, borrifar. Essa, sim. Rociar é uma pérola. Talvez porque não combine exatamente com orvalho. Lembra qualquer outra coisa, menos tornar algo úmido. Algumas palavras são assim, tem esse poder. Não lembro outra agora.
Bilirrubina: pigmento vermelho, presente na bílis e nas fezes, de estrutura complicada. Final escatológico. Antecipa a leitura de Jonas, o copromanta.
Gosto de dicionários tanto quanto de romances e novelas. Sem saber, eles nos contam grandes e pequenas histórias. “Rociar” me diz muita coisa, “bilirrubina” também. Mas isso é bobagem. Antes de morrer, escrevo um dicionário. Quem disse isso? Guimarães Rosa. Ele tinha amor aos dicionários. Morreu antes. Mário Quintana garantiu que, acaso tivesse de se mudar de mala e cuia para aquela ilha deserta, levaria consigo um bom e volumoso dicionário. Estoque inesgotável de papel? Não apenas isso. Acho que ele pensava mais nas histórias em si, na solidão da ilha.
Mas isso também é bobagem. Dicionários são o que são: depósitos de palavras. Palavras. Às vezes, demoro até perceber e aceitar que a cada uma delas corresponde um significado, uma alma, um ou vários sentidos, uma ou várias caras. E se alguém embaralhasse as coisas, as palavras se misturassem, perdessem sua identidade, passassem a não obedecer a qualquer das regras de ordenamento e se juntassem ao acaso, formando novas palavras, casando-se e descasando-se, aglutinando-se e fracionando-se em cacos? Seria o fim? Que coisa seria.
Melhor ir embora.
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