“Escrever é se livrar das coisas”, li em algum lugar ao longo de 2025, não sei se num livro ou numa placa da rua, na faixa de pedestres ou num muro enquanto passava de carro, administrando essa forma de desatenção que nutrimos quando estamos atolados nesse movimento de alheamento semiconsciente.
Pensei de imediato se escrevia para me desobrigar do peso do que carrego, se tinha e tenho a intenção de deixar caírem também objetos pelo caminho, alguns de propósito, outros involuntariamente, e a resposta é que não sei, falo sinceramente que não sei.Então me pus a escrever nesse interregno, o tempo de estio durante o qual o ano não acabou, mas é como se tivesse terminado, e o novo não começou, mas é também como se já respirássemos esses ares de novidade e renovação que o rito produz apenas por essa mágica da repetição – a isso se chama força do simbólico.
E, no ato mesmo de escrever, quis registrar tudo de que ia me livrando, por pouco que seja, coisas pequenas e coisas grandes, que rolam para fora ou subitamente perdem substância, como esses corpos que desaparecem nos jogos mais antigos de videogame tão logo os matamos, piscando a intervalos e depois sumindo totalmente.
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