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Microensaísmo de quinta

O INTELECTO CONTRA O BAIXO ASTRAL Francis Santiago É fato: a imagem do programa de polícia comunitária Ronda do Quarteirão não é mais a mesma. Se antes os PMs-delleuzianos ganhavam coxinhas, porções de baião com queijo, enroladinhos de salsicha e outros acepipes em várias cadeias de lanchonetes e churrascarias da periferia de Fortaleza, agora são tratados a pão e água. Tudo fruto dos recentes destrambelhos dos homens da farda azul-bebê, desenhada por Lino Villaventura num momento de extremo deleite intimista, mas sem qualquer preocupação com a moral da força policial frente à viril bandidagem. É fácil entender por que uma parcela dos jovens soldados do Ronda, que deveriam substituir a beligerância priápica dos antigos policiais por uma abordagem que conjugasse a maciez do colo materno à rígida educação paterna, caiu, senão no descrédito, num limbo escuro e frio. Não foi da noite para o dia, nem de uma hora para outra. Tampouco atingiu a totalidade da corporação, que ai...

Síndrome do calango febril

NOTA >>> Este ensaio de ensaio, ridículo em sua pretensão acadêmica, foi escrito em abril de 2010, em meio à famosa crise editorial que abalou o mercado cearense. O tsunami foi fartamente comentado em blogs e mesas de bar. À época, diversas teorias surgiram com o fito expresso de explicar a crise que nos havia tragado a todos e que parecia demorar-se uma eternidade. Apenas alguns poucos nomes foram capazes de enxergar maledicência onde havia somente molecagem e somente molecagem onde havia falcatrua da grossa. Ora, que se danem! O texto, elaborado por mim em momento de fraqueza espiritual e dormência física, não goza de fortuna crítica das mais dignas. Ao que consta, foi publicado na REVISTA AEROLÂNDIA , de quem jamais vi um centavo em troca. Boa leitura! POR QUE ELES NÃO TOCARAM NO ASSUNTO? PARTO DUM questionamento sobremaneira atroz: o que de concreto escreveram Tobias Barreto, Capistrano de Abreu, Floro Bartolomeu, C.S. Lewis, Artur Bela Clava, Santo Fiorrizheh, Oswald B...

Joelho (paradigma Law-Winslet)

N ão, me desculpe, mas jamais desejei amor gratuito, tranquilo, livre de traumas. Como um joelho que chegasse aos 13 anos sem machucões. Francamente, duvido que seja assim como dizem. De qualquer maneira, é diferente, não incomoda tanto quanto outro tipo de sentimento, aquele tipo que requer mais habilidade, paciência e estômago para giros completos na montanha russa. O tipo que faz você rejeitar o café da manhã e ignorar solenemente as atribuições que lhe competem na empresa. É, ainda sou disso. Não, passei muito tempo preocupada em divertir meu irmão sendo sua parceira no PS 2. Cresci verticalmente. Admito: não gosto desse tipo específico de sentimento – imaginem uma fala pausada, com acento irônico despejado sem razão especial em “sentimento”. Tem sempre o casal do filme. Ele vive provações semelhantes às vividas por nós. Como se cultivasse uma eterna juventude, engata uma via-crúcis na outra, sem encontrar sossego, que só vem no final, claro, quando os dois a) se separam, e o re...

Essa outra coisa que falava

Bom, vamos a outra nota explicativa. Estamos cheios de notas hoje. Essa diz respeito a uma megarreportagem escrita por mim a propósito da explosão no consumo dos cadernos Moleskine . Entretanto, a coisa mercadológica acabou ficando em segundo plano no decorrer do trabalho. Por fim, como podem ver, acabei me detendo mesmo foi no aspecto da coisa em si - a coisa em si quer dizer nada menos, nada mais que o fato propriamente dito. Boa leitura, meninada! NOTA Este texto foi publicado numa revista satírica de nome sonoro: AEROLÂNDIA, e seu conteúdo é de inteira responsabilidade do editor da magazine, e não, como sói acontecer, do autor da matéria. O GUARANÁ DO ESPÍRITO DEPOIS DA CIRANDA em mandala ( adotada como política pública pela Prefeitura de Fortaleza e como dinâmica de grupo para liberar as energias ruins nas salas de treinamento das empresas de telefonia e garagens de empresas de ônibus ), chega à capital outra novidade. Não é o metrô , infelizmente. Talvez seja coisa melhor: o...

Sobre aquele assunto

Bom, nota explicativa. O conto que segue abaixo integra um livro que se chama... Antes, chamava-se Baú sem fundo , e foi inscrito em um edital assim, com essa graça desgraciosa, mas passou a ter outro nome mais bonito e menos sugestivo de coisa dispendiosa após leitura de um camarada muito querido. Logo, acatei. O livro foi escrito quando tinha entre 24 e 25 anos. Hoje, tenho 30. Portanto, muito do que vejo se tornou estranho, claro, como aquele bilhete de cinema de 2004 que faz lembrar um namoro já de há muito perdido no tempo. Pra finalizar, digo que são 20 contos, alguns bem curtos, outros nem tanto. Pretendo publicar boa parte deles aqui, um por semana. É isso. BAÚ SEM FUNDO (2004) Nunca tinha visto ou lido tanta coisa a respeito de nada, repito, tanta coisa a respeito de nada, de coisa alguma. É uma besteira, disse pela quinta vez e desligou a televisão. Tudo bem, hoje acordei atacada. Pode rir, estou atacada mesmo. Meu Deus, como as coisas costumam acontecer, eu não sei di...

Rebuscada

Mas, claro: é possível que não compreenda inteiramente o que se passa entre nós. É possível não compreender plenamente um ao outro. É igualmente possível que, após tantos anos, nos pareçamos tão mutuamente estranhos quanto fomos no começo, quando, ali, parados na autorizada, checando eu a placa mãe do notebook e você o HD do PC da sua irmã, cada qual enredado em coisas particulares, histórias que teriam se desenrolado absolutamente paralelas, nos olhamos e decidimos em silêncio que seria. Não estou falando do acaso, da beleza das coisas arbitrárias. Estupidez, isso. Foi, não nego. Não nego que o tempo primaveril (a Marcinha iria adorar escutar isso) realmente pareceu eterno, as longas conversas, fantástico, os infinitos silêncios, enfim, todo esse começo repleto de belas imagens para guardar e de histórias que são ao cabo mera reprodução de uma via-crúcis atravessada indistintamente por qualquer pessoa que resolva amar. É natural, vejo assim, nada especial, friamente analisado... E...

Minha geração

Não entende que haja essa suspensão do prazer, que o produto adquirido em compra coletiva não corresponda exatamente ao que dizia a descrição, que o dia ansiado seja ora especial, ora a mesma maratona de apanhar tudo pelas mãos quase sempre suadas que deixam os objetos, xícaras, cadernos, livros e dedos, escorregarem, então o tempo vira um continumm zinho desgostoso recheado de pequenas decepções, como encontrar o homem certo mas o homem certo quase no mesmo segundo torna-se figurativamente desinteressante, ou mesmo indiferente. E também não entende essa absurda escassez de sentido em algo que, na sua cabeça, está plenamente desenhado, acordar, ir ao salão, à faculdade, à praia, ao shopping, namorar, falar ao telefone, checar e-mail, fazer sexo, e ao final do dia, a despeito do acúmulo de atividades escolhidas prioritariamente entre tantas que não resultariam em retorno emocional e afetivo à altura, como adora destacar, sente: é como se estivesse meio lá, meio cá, e fala isso tudo pont...