Mas, claro: é possível que não compreenda inteiramente o que se passa entre nós. É possível não compreender plenamente um ao outro. É igualmente possível que, após tantos anos, nos pareçamos tão mutuamente estranhos quanto fomos no começo, quando, ali, parados na autorizada, checando eu a placa mãe do notebook e você o HD do PC da sua irmã, cada qual enredado em coisas particulares, histórias que teriam se desenrolado absolutamente paralelas, nos olhamos e decidimos em silêncio que seria. Não estou falando do acaso, da beleza das coisas arbitrárias. Estupidez, isso.
Foi, não nego. Não nego que o tempo primaveril (a Marcinha iria adorar escutar isso) realmente pareceu eterno, as longas conversas, fantástico, os infinitos silêncios, enfim, todo esse começo repleto de belas imagens para guardar e de histórias que são ao cabo mera reprodução de uma via-crúcis atravessada indistintamente por qualquer pessoa que resolva amar. É natural, vejo assim, nada especial, friamente analisado...
Estou sendo chata?
Bom, foi assim conosco, imagino que seguirá inalterada essa rotina de se deparar com o diferente, o atraente, digamos, envolver-se, tornar-se comum, chato, indispor-se, separar-se, com variações que admitem reencanto, retomada, reencontro, desencanto, nova dissipação, novos desenlaces, como nos filmes. Continuará sendo com todos, não há por que pensar que esse story board basicão será modificado por alguma hecatombe autoral.
Uma coisa fantástica, para ficar no mínimo, não preciso sequer enumerar aqui as razões, nós sabemos as razões, F., sabemos tudo, por que, como, onde, sabíamos que seria isso, houve pouca surpresa. Mesmo quando acabou... Houve pouca surpresa. Pensando bem, houve um susto mais para o teatro do que para o real, mais encenação, que se justifica na falta de prática em admitir o fato: de antemão, tínhamos ciência, essa é a palavra, ciência de que haveria um fim, como realmente houve, está havendo, se não percebe.
Desculpa, não sei se acredito em tudo isso, o que digo agora é mais essa coisa que falamos em cascata, sem freios, coisas que procuraram uma frecha durante algum tempo mas, diante dela, se calaram, voltaram e se recolheram porque ainda não era a hora. É racionalizado, é. Parece?
Rebuscada?
Não quero pensar que esteja errada, não, nem que possa estar certa. Pouco me preocupa. O que ainda me detém aqui é Gabriel e Amanda, por enquanto. Mas cada vez me incomoda menos a hipótese de deixá-los contigo e cumprir aquela missão que um dia projetamos seria executada em duo, em parceria, se lembra? Pois é.
Não, não. Agora, o melhor mesmo é permitir que o tempo opere. Tudo bem, tudo bem mesmo. Nos falamos com mais vagar assim que for possível – sim, pode chamar, eu sou rebuscada.
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