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Joelho (paradigma Law-Winslet)

N ão, me desculpe, mas jamais desejei amor gratuito, tranquilo, livre de traumas. Como um joelho que chegasse aos 13 anos sem machucões. Francamente, duvido que seja assim como dizem. De qualquer maneira, é diferente, não incomoda tanto quanto outro tipo de sentimento, aquele tipo que requer mais habilidade, paciência e estômago para giros completos na montanha russa. O tipo que faz você rejeitar o café da manhã e ignorar solenemente as atribuições que lhe competem na empresa. É, ainda sou disso. Não, passei muito tempo preocupada em divertir meu irmão sendo sua parceira no PS 2. Cresci verticalmente. Admito: não gosto desse tipo específico de sentimento – imaginem uma fala pausada, com acento irônico despejado sem razão especial em “sentimento”. Tem sempre o casal do filme. Ele vive provações semelhantes às vividas por nós. Como se cultivasse uma eterna juventude, engata uma via-crúcis na outra, sem encontrar sossego, que só vem no final, claro, quando os dois a) se separam, e o re...

Essa outra coisa que falava

Bom, vamos a outra nota explicativa. Estamos cheios de notas hoje. Essa diz respeito a uma megarreportagem escrita por mim a propósito da explosão no consumo dos cadernos Moleskine . Entretanto, a coisa mercadológica acabou ficando em segundo plano no decorrer do trabalho. Por fim, como podem ver, acabei me detendo mesmo foi no aspecto da coisa em si - a coisa em si quer dizer nada menos, nada mais que o fato propriamente dito. Boa leitura, meninada! NOTA Este texto foi publicado numa revista satírica de nome sonoro: AEROLÂNDIA, e seu conteúdo é de inteira responsabilidade do editor da magazine, e não, como sói acontecer, do autor da matéria. O GUARANÁ DO ESPÍRITO DEPOIS DA CIRANDA em mandala ( adotada como política pública pela Prefeitura de Fortaleza e como dinâmica de grupo para liberar as energias ruins nas salas de treinamento das empresas de telefonia e garagens de empresas de ônibus ), chega à capital outra novidade. Não é o metrô , infelizmente. Talvez seja coisa melhor: o...

Sobre aquele assunto

Bom, nota explicativa. O conto que segue abaixo integra um livro que se chama... Antes, chamava-se Baú sem fundo , e foi inscrito em um edital assim, com essa graça desgraciosa, mas passou a ter outro nome mais bonito e menos sugestivo de coisa dispendiosa após leitura de um camarada muito querido. Logo, acatei. O livro foi escrito quando tinha entre 24 e 25 anos. Hoje, tenho 30. Portanto, muito do que vejo se tornou estranho, claro, como aquele bilhete de cinema de 2004 que faz lembrar um namoro já de há muito perdido no tempo. Pra finalizar, digo que são 20 contos, alguns bem curtos, outros nem tanto. Pretendo publicar boa parte deles aqui, um por semana. É isso. BAÚ SEM FUNDO (2004) Nunca tinha visto ou lido tanta coisa a respeito de nada, repito, tanta coisa a respeito de nada, de coisa alguma. É uma besteira, disse pela quinta vez e desligou a televisão. Tudo bem, hoje acordei atacada. Pode rir, estou atacada mesmo. Meu Deus, como as coisas costumam acontecer, eu não sei di...

Rebuscada

Mas, claro: é possível que não compreenda inteiramente o que se passa entre nós. É possível não compreender plenamente um ao outro. É igualmente possível que, após tantos anos, nos pareçamos tão mutuamente estranhos quanto fomos no começo, quando, ali, parados na autorizada, checando eu a placa mãe do notebook e você o HD do PC da sua irmã, cada qual enredado em coisas particulares, histórias que teriam se desenrolado absolutamente paralelas, nos olhamos e decidimos em silêncio que seria. Não estou falando do acaso, da beleza das coisas arbitrárias. Estupidez, isso. Foi, não nego. Não nego que o tempo primaveril (a Marcinha iria adorar escutar isso) realmente pareceu eterno, as longas conversas, fantástico, os infinitos silêncios, enfim, todo esse começo repleto de belas imagens para guardar e de histórias que são ao cabo mera reprodução de uma via-crúcis atravessada indistintamente por qualquer pessoa que resolva amar. É natural, vejo assim, nada especial, friamente analisado... E...

Minha geração

Não entende que haja essa suspensão do prazer, que o produto adquirido em compra coletiva não corresponda exatamente ao que dizia a descrição, que o dia ansiado seja ora especial, ora a mesma maratona de apanhar tudo pelas mãos quase sempre suadas que deixam os objetos, xícaras, cadernos, livros e dedos, escorregarem, então o tempo vira um continumm zinho desgostoso recheado de pequenas decepções, como encontrar o homem certo mas o homem certo quase no mesmo segundo torna-se figurativamente desinteressante, ou mesmo indiferente. E também não entende essa absurda escassez de sentido em algo que, na sua cabeça, está plenamente desenhado, acordar, ir ao salão, à faculdade, à praia, ao shopping, namorar, falar ao telefone, checar e-mail, fazer sexo, e ao final do dia, a despeito do acúmulo de atividades escolhidas prioritariamente entre tantas que não resultariam em retorno emocional e afetivo à altura, como adora destacar, sente: é como se estivesse meio lá, meio cá, e fala isso tudo pont...

A senhora poderia explicar a letra?

Doutora, é mais ou menos como se não doesse, é quase dor, fica muito perto, imagino que sentem na mesma fileira afastados um do outro por duas ou três cadeiras, e com isso quero dizer somente que não chega a ser rigorosamente um incômodo, mas admito, dói um pouco quando, antes de passar na catraca do ônibus ou no instante imediatamente anterior à impressão do extrato bancário, para ficar em apenas duas situações mais corriqueiras, tenho um relâmpago de lembrança, e esse minuto em que tudo estremece é tão chocante que descer na parada seguinte, que é uma coisa bastante simples, ganha contornos mecânicos, robóticos, uma perna, depois outra perna, finalmente a calçada, agora um passo, depois outro passo, me flagro quase ensinando o abecedário dos movimentos. Nessas horas me sinto totalmente arruinada, é algo absurdo, é claro que é, se me entende, se compreende como é ser invadida por pensamentos que não se controlam, vêm e vão, o tipo do pensamento que se evita o dia inteiro fingindo...

Superconsciência do "bang bang"

Havia entre ambos uma sombra, uma nuvem rala de tensão que apenas se insinuava, entretanto se era nuvem e essa nuvem denotava tensão, mas tensão apenas sugerida, não explicitada, o leitor há de querer saber de que maneira ela descobrira o mal estar do casal. Faro de mulher? Quem sabe. Era menos um mal estar do que um leve incômodo. Curiosamente, acometia os dois em simultâneo. De todo modo, o primeiro sinal lhe chegara mesmo pelas narinas, tamanha era a discrepância, não a discrepância, mas a distância que os separava naquele momento. Um em Paraty, outro em Jeri. Entre eles, interpunha-se, para seu governo, um balcão de cozinha americana. Sobre o balcão, um bloco de cimento recoberto de azulejos brancos que media cerca de dois metros por 40 cm de largura, repousavam dois copos grandes. Logo os copos receberiam: um pouco de leite em pó, três colheres de açúcar, achocolatado e água. Detrás do balcão, o Homem preparava o jantar. Sentada no pufe da sala, a Mulher aguardava enquanto as...