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resENHA

O SENHOR DA GUERRA A GUERRA DO FUTEBOL , DO POLONÊS RYSZARD KAPUSCINSKI (1932-2007), TRAZ RELATOS DE CONFLITOS ARMADOS OCORRIDOS DURANTE A GUERRA FRIA. ENTRE ELES, O EMBATE QUE SE SUCEDEU À PARTIDA ENTRE HONDURAS E EL SALVADOR NAS ELIMINATÓRIAS DA COPA DE 1970 HENRIQUE ARAÚJO>>>ESPECIAL PARA O POVO Embora haja muitos fatores que levem a minimizar a defasagem entre os anos que demarcam um período histórico qualquer e outro, um deles merece destaque: a capacidade exclusivamente humana de resolver suas pendências intra-espécie utilizando armamento pesado. Dito isso, pode-se partir para a leitura de A guerra do futebol (Companhia das Letras, 2008) sem nenhum tipo de preocupação que resulte do fato de as reportagens compiladas no livro de Ryszard Kapuscinski terem sido escritas entre os anos de 1960 e 1980. Sim, aquela África não é a mesma desta. O cenário mudou. Como disse alguém, “os pára-quedistas belgas não estão mais lá” e alguns ditadores foram substituídos por outros. De ...

Antes ainda e novamente

Estamos por aqui. Mais tarde nos falamos. Por ora, fazer o social. Enquanto isso, perguntem qualquer coisa ao casal. Eles dirão.

NO COUNTRY FOR OLD BOYS

Vou dizer rapidamente o que tenho a dizer e depois dormir um pouco antes da ceia natalina. Afinal, nem tenho mais o que esconder após ter deixado escapar um arroto cujas ondulações sonoras – e odoríficas? – alcançaram a visita que estava na sala conversando com os de casa. Em seguida, ela (não a visita, mas “ela”) perguntou: “Tu QUER ME MATAR DE VERGONHA?” “NÃO”, respondi. Foi a Coca-Cola. Foi sem querer mesmo. Espero que não tenham uma má impressão de mim. Sou bem-educado. Sempre libero o assento da frente no ônibus quando algum velhinho alquebrado rasteja até e, sem forças, suplica estendendo um braço cheio de veias azuis saltando como pipocas numa panela. Mas o que tinha mesmo a dizer a menos de 12 horas do Natal? Nada. Não tinha ontem. Continuo não tendo hoje. Apenas que o 24 de dezembro é um dia que mexe com as pessoas. Brigas, bebedeiras, manifestações populares. Em frente ao Pão de Açúcar, um grupo rumoroso de pessoas vindas dos bairros mais pobres dessa área – Antônio Bezerra, ...

NATAliteratura

Sabem, escrevi isto no CADERNO DE DOMINGO . Por razões óbvias, não saiu completo. Completo na sua incompletude. Faltou espaço. De qualquer forma, leiam o texto do Ignácio de Loyola Brandão , que ficou uma maravilha. E os demais, que ficaram formosos. Estou a pensar que a intenção foi alcançada. Falar do Natal na literatura. No fim, dêem uma boa lida nas coisas do caderno. QUEM PAGA O PATO? HENRIQUE ARAÚJO>>>ESPECIAL PARA O POVO O conto tem menino, brinquedo, velho barbado. Tem Natal, sim. Chama-se O pato do Lilico . Foi escrito por um cearense: Caio Porfírio Carneiro e publicado em Trapiá , livro que reúne outras dez historietas. Resumo: o menino acompanha o pai até Coité, povoado amiudado no interior cearense. Era a cidade grande, a megalópole sertaneja. Lilico queria por tudo no mundo ir até Coité na véspera de Natal, ver a cidade formosa, andar na praça, chafurdar. O pai convidou, e lá se foram os dois: Tropeiro João, vender o amontoado de coco que chacoalhava às costas do...

"F"...

Tem um cheiro de bexiga no ar. Sinto isso. Desde o começo da noite, quando voltei da churrascaria com a barriga empanturrada de cerveja e peixe. Peixe sabe nadar em cerveja? Não se estiver morto. Não se a cerveja estiver quente. Não se for peixe de cerveja gelada nadando em cerveja quente – era isso que desde o início pretendia dizer e não disse. HOJE VOU CONTAR UM SEGREDO. Tenho problemas com o “f” do teclado. Quando menos espero, ele está lá. Geralmente no final das sentenças. Porque sofro de incontinência digital. Explico depois. Interrompo: são exatamente 23h19 minutos na minha rua, que fica numa zona cinzenta entre a Parquelândia, o Parque Araxá, o São Gerardo e outra localidade cujo nome não lembro. Lembrei: Alagadiço. Voltemos: são 23h20 – o tempo passou enquanto escrevia - e todas as crianças da rua estão soltas, andando de bicicleta ou correndo. Ou trepando-se na grade da porta. Ou conversando debaixo da minha janela. Milagre? Não exatamente. Aqui a vida corre noutros termos. ...

RESenha

O LIVRO DOS GRANDES ÓDIOS CONTROVERSO, O ESCRITOR MEXICANO FERNANDO VALLEJO USA A VERBORRAGIA E O PANFLETARISMO COMO INGREDIENTES DE UM ROMANCE INDIGESTO HENRIQUE ARAÚJO>>>ESPECIAL PARA O POVO Vencedor em 2003 do prêmio mais importante em língua hispânica, o Rómulo Gallegos, O despenhadeiro , do colombiano naturalizado mexicano Fernando Vallejo, 66 anos, é um romance de feição aberta, explícita e feroz. Seu narrador, cuja voz se confunde dentro e fora do romance com a do próprio autor, leva 169 páginas a desfiar um rosário de imprecações contra a Colômbia, a igreja e, por tabela, o Papa, os políticos, as mulheres que assumiram o poder recentemente naquele país, o narcotráfico, os comunistas, a contemporaneidade, a Internet, os poetas, os rios. Por fim, e não menos raivosamente, o fluxo intempestivo de Vallejo volta-se contra a própria família. Para ele, os genes dos Rendones deveriam ser proibidos por lei de se reproduzirem. Porque, bem medidos, são tão nocivos quanto o vírus ...

Avant la lettre ou o Dia em que fomos Michael Moore

Hoje resolvi escrever. Estou assim. Não sei do que se trata mesmo. Apenas que resolvi escrever. Tivemos uma conversa na hora do almoço. Sentamos, pedimos algumas comidas e bebemos. Foi sério. Falamos do jornalismo. Bem, falamos bem. Mas o mal-estar segue. Uma boa notícia. Ganhamos o prêmio da Associação Cearense de Imprensa por um caderno publicado em 17 de agosto deste ano no jornal O Povo . Não foi na categoria Cultura, como era de se esperar, mas Cidades. Isso mesmo. Nosso caderno dos bairros – seis repórteres visitam bairros estranhos, exóticos e escrevem sobre eles numa perspectiva, digamos, humanizadora (porque não encontro outra palavra) – rendeu um prêmio de cinco mil reais dividido por seis. Menos os descontos. Tudo subtraído, teremos um Natal recheado. Os panetones e champanhes e perus estão garantidos. Vejam, jornalismo dá certo. Dá dinheiro. E ainda rende prêmios que nos põem todo prosa, felizes da vida. Agora podemos desfilar alegremente entre os círculos da cidade, acenar...